Sunday, May 25, 2008

Suspeita, Choro, Terror e Grito

Este fim de semana foi só trabalho. Na sexta de manhã acompanhei uma menina asmática. O hospital me chamou novamente no sábado, às 18h30, porque acharam muito estranha a reação da menina, que ao invés de ficar feliz em saber que podia ir para casa, na sexta à tarde, chorou e disse não querer isso.

A equipe médica suspeitou que ela estivesse sendo maltratada em casa, mas a verdade está longe disso. O choro foi de frustração, pois ela ainda não estava sentindo-se bem para sair do hospital. Ela vinha sofrendo crise asmática há 3 semanas e tudo o que faziam na cidade dela era colocá-la na máscara, aplicá-la injeção para abrir os alvéolos e mandá-la para casa. Não tratavam o problema. Contudo, no hospital daqui de Galway a médica trocou os 2 remédios que ela vinha tomando há 4 anos e ela melhorou.

Cerca de 3 horas da manhã de hoje recebi outra ligação da agência. Havia um bebê na Emergência. Felizmente eu estava acordada, pois seria duro, para mim, levantar no meio da noite para ir para o hospital. Além disso, o Pete foi comigo até lá. Eu já tinha acompanhado a mãe desse bebê nas consultas pré-natais.

O bebê tem quase 5 meses. Como ela não disse que tinha engravidado novamente deduzi que a barriga dela ainda não diminuiu. É interessante, pois a barriga dela está grande e dura (não que eu tenha tocado nela - isso seria inapropriado).

Enfim, ela começou a introduzir comida na alimentação do bebê, para poder voltar a trabalhar, mas o bebê vinha tendo reação alérgica desde ontem. A médica devia estar trabalhando há muitas horas, pois não conseguia anotar a sequência dos fatos direito: horário de cada alimentação, quanto tempo depois o bebê teve a reação alérgica, o que aconteceu durante a crise alérgica, quanto tempo durou, quanto tempo até a próxima crise e etc. E a mãe do bebê também não era precisa. Para piorar eu estava sem paciência. "Se você deu esse alimento e ele teve reação alérgica, não dê mais esse alimento". Isso era o que eu pensava, mas não disse nada.

Quando a médica disse que teria que tirar sangue do bêbe, para saber se ele era alérgico a alguma coisa, a mãe começou a chorar e dizer "Oh! Meus Deus! Vai doer. Tadinho do meu bebê" etc. Daí comecei a pensar "Se você o trouxe aqui significa que você quer que tratem ele, não é mesmo, então, pára de choramingar e deixe a médica fazer o trabalho dela", mas as mães são santas e sou profissional, então, isso não saiu do campo dos pensamentos.

A médica enfiou a agulha no pézinho dele duas vezes sem sucesso. Não desceu uma gota de sangue sequer. Ele chorou o tempo todo, é claro. Aí tudo bem, pode lamentar. É chato, mas ainda não é culpa da médica.

Fomos até o Departamento Pediátrico, longe da Emergência, e lá pesaram e examinaram o bebê antes de encaminharem ele e a mãe para um quarto, onde eles passariam a noite.

Depois eu tive que voltar sozinha para a Emergência. Na ida a mãe tinha dito que estava sentindo cheiro de defunto. É claro que lembrei disso na volta. O hospital estava DESERTO! Algumas portas não abriam, então, eu sabia que estava indo para o lado errado. De repente umas portas de madeira abriram sozinhas! Quanto olhei para cima eu li "Departamento Psiquiátrico". Eu tinha acabado de passar por ele! Credo. Parecia filme de terror. Só faltava algum paciente maluco resolver me perseguir (estou brincando, pelo amor de Deus, eu tenho muito respeito por essas pessoas até porque eu posso parar nesse departamento um dia).

Peguei meu formulário e voltei sozinha para casa. Não liguei para o Pete como combinado, pois o céu não estava mais escuro. Achei melhor poupá-lo. Hoje vi o quão cedo começa a clarear no verão: 4:15.

Às 10 da manhã acompanhei uma grávida que estavam induzindo o parto - tinha sido agendado na sexta. Não demorei nem 30 min. lá. Voltei para casa e dormi até o celular tocar novamente às 17:45. Sabia que era por causa dessa grávida. Desta vez ela estava na sala de parto.

Ela foi a grávida mais escandalosa que acompanhei. Quando a dor vinha ela "falava" "A dor, a dor, a dor, amor, faz massagem na minha barriga!!!!!!!!". Ela estava tão agitada que não queria usar mais a máscara com remédio que era justamente para reduzir a dor. A anestesista titubeou tanto, com medo de dar anestesia nela e ter alguma consequência grave, pois no arquivo dela dizia que ela tinha tido um problema sanguíneo pouco conhecido aqui, Chagas, que acabou que o bebê não esperou a peridural. Ela teve que empurrar apenas 2 vezes para o bebê nascer.

Esse bebê é o quarto filho dela, mas como o último foi há 19 anos ela parece ter esquecido a dor do parto. As meninas entre 16 e 20 e poucos anos são bem mais fáceis de lidar. A de hoje, com 37, chegou até a gritar na primeira empurrada. Entendo que ela não recebeu anestesia, mas mesmo assim, ninguém estava achando bonita a atitude descontrolada dela e a parteira disse para ela não gritar na segunda empurrada.

Assim, todo o trabalho realizado neste fim de semana envolveu bebês. É ótimo trabalhar no fim de semana, pois eles pagam mais pela hora, e não sou fã de domingos parados, mas percebi que quando o trabalho interfere na minha noite de sono eu fico bem sem paciência, o que não posso deixar transparecer em momento algum.